Contador de visitas

Contador de visitas

domingo, 24 de abril de 2011

Aprendi com os aprendedores (Camila de Jesus)

Me lembro como se fosse hoje o meu último ano de aula no Hugo. A 8ª B... minha sala, meus amigos... aquela escola imensa, aquele longo e largo corredor, as cadeiras do lado de fora, pra tomar o "banho de sol" na hora do intervalo. Foi um período tão tranquilo. Lembro-me que eu tinha uma blusa roxa, que eu adorava e entre tantos dias, ela era a que eu mais usava, entretanto as vezes nem estava tão frio para aquilo...
Me lembro das aulas do Altair (Ow boy!!!), do Rubens (...os australopitecus), da Marcia (descubra o valor de X e Y, na equação que segue...), do Sinval (...é a Inércia, galerinha, é a Inércia!), da Luciana (tudo culpa do sujeito da frase. Quem é mesmo o sujeito da frase?!). Lembro das aulas de Educação Física (volei para as meninas e futebol para os meninos O ANO TODO!!!)
Lembro que neste ultimo ano, me apeguei muito as pessoas, mas todo dia era um dia de despedida... no ano seguinte, eu não mais estaria ali. Entre tantos horarios para estudar, ali não ficaria mais. Outra escola já estava me esperando... entretanto, não deixei de viver tudo o que tinha pra viver. A educação era publica. A ingenuidade rondava as nossas cabeças. Tudo era motivo para questionar os professores, que não conseguiam se livrar de nós... Um intervalo de aulas com Legião Urbana, leitura de revista, desenvolvimento de equaçoes matemáticas, chamada oral... Esse era o Hugo!!! O ano acabou.
2000, O ano começou. 1º dia de aula. Lista na parede. Sala 3. 1ª aula: Língua Inglesa - Professora Elcina. (Attention to students!!! Look at the blackboard as I will explain.) "Na minha aula, até pra tomar agua vocês tem que pedir licença!" Juro que imaginei que não ficaria ali até a hora do intervalo, mas... minha matricula estava feita: estudaria os 5 dias da semana dàs 07h as 18h. E assim aconteceu. Entre tantos dias, meses, bimestres, semestres, anos, fui vivendo a MELHOR PARTE DA MINHA VIDA. Conheci pessoas, me aproximei de outras, aprendi coisas das quais vou levar para a vida inteira, entretanto... isso chegou ao fim. Uma formatura que ficou marcada. O João que roubou pão; Conga, conga, conga; As calças pretas da Sonia, a linguinha da Maria Helena, as ruguinhas da testa do Justo, cuseinarie, dourado, tangran... Se meus joelhos não doessem mais!!! Esse foi o CEFAM. A educação era publica. Entre tantas coisas vividas algo indescritivel, entretanto a melhor parte da vivencia. Acabou o curso. O que me restava?
Vestibular, vestibular, VES-TI-BU-LAR. Queria fazer Comunicação Social com enfase em Jornalismo. Prestei esse tal... pra matemática. Me matriculei... em Letras. Foi ai que comecei a descobrir que NADA acontece por acaso. Em todo perido da faculdade, trabalhei em sala de aula, com crianças, adolescentes... comecei e por varias vezes me perguntei: Camila, onde você foi amarrar o seu jegue?! A educação é um problema sério. A cada novo dia, a cada sala de aula, a casa novos alunos, fui percebendo que não era facil essa brincadeira. Lembrava diariamente da pergunta do meu pai: "Filha, você tem certeza que é isso que você quer pra você? Tenho papai, tenho certeza. É isso que quero pra mim!" E ele sempre me respeitou.
Quando terminei o curso de Letras, entrei em uma escola para trabalhar como professora eventual. Entre tantos alunos, me deparei com cada um, que se eu fosse uma bunda mole, não teria voltado nunca mais. Entretanto, foram justamente esses alunos que fizeram com que eu não abandonasse o jegue amarrado sozinho.
Cada dia era uma historia nova, uma sala nova, alunos novos... A educação era publica... e para o meu desespero, totalmente diferente do Hugo e do CEFAM. Onde estavam todas aquelas ideologias de Paulo Freire, Piaget, Vygotsky e Wallon? Onde estava o "dando certo" do governo em relação aos professores, a infra estrutura...?
Durante 4 anos, me peguei pensando: Camila, onde você foi amarrar o seu jegue?! E essa me pergunta sempre me perseguiu.
A educação foi colocada em mim como sangue que corre na minha veia. Uma vez injetado, impossível tirar. Fico por horas e horas pensando nas pessoas que formei, pelas salas que passei, pelas coisas que disse... Hoje, vejo fotos dos meus ex alunos nas redes sociais e me bate uma saudade tão grande. Encontro-os na rua e na mesma medida em que eles falam um "Oi pssora!" eu tento retribuir falando um "E ae, fulano de tal!", afinal, o nome é pra ser dito não é?! Não sei se faz diferença pra eles, pra mim, enquanto educadora faz... muita diferença, quando encontro com algum professor meu e eles me chamam pelo nome, me faz ate mais feliz.
Tenho alunos casados, solteiros, presos, defuntos, drogados, gays, amigos, sem expectativa (ainda). E com todos eles eu aprendi alguma coisa.
Aprendi que ninguém é tão grande que não tenha algo pra aprender.
Aprendi que o tempo nos ensina.
Aprendi que vivi a melhor fase da minha vida do jeito certo.
Aprendi que memória não da pau.
Aprendi que conhecimento teorico não é nada sem conhecimento de vida.
Aprendi que tudo que a gente oferece a gente recebe em troca.
Aprendi que sou um ser comum, acessivel a eles, a qualquer momento.
Aprendi que juventude é juventude, sempre.
Aprendi que "não queira que tenhamos 25 anos, quando na verdade não sabemos nem ter 18."
Aprendi que tudo vale a pena quando a alma nao é pequena.
Aprendi que não preciso perguntar onde fui amarrar o meu jegue... eu sei onde eu fiz isso.
Aprendi que quando a gente está ensinando, na verdade a gente ta aprendendo.
Aprendi que o que eu aprendi na teoria, foi desenvolvido na pratica por causa deles.
Aprendi que saudade é uma coisa que dá e passa, mas que permanece.
Aprendi que qualquer aluno, onde quer que seja, o que quer que seja, sempre irá me ensinar.
Aprendi que o pouco que aprendi, já é muito, por tudo aquilo que já vivi.
Foi com eles que eu aprendi.

Agradeço aos meu pais, ao Hugo, ao CEFAM, as faculdades, aos colegas de trabalho, mas... se não fosse os meus alunos, eu não seria o que sou... eu não estaria onde estou... esse blog não existiria, esse texto não existiria, essas lágrimas não existiriam. Talvez nem eu estivesse viva mais.
Pra finalizar, citarei Oscar Wilde.
"Viver é uma coisa muito rara, a maioria das pessoas apenas existe."
Eu vivo, pois todos os meus alunos até hoje me ensinaram viver.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Vida (Camila de Jesus)

Não gosto de gente mal educada, que se acha e que fica atras de um computador achando que vai melhorar tudo porque simplesmente conhece o lado administrativo e teórico da coisa.
Não gosto de gente que não sabe conversar, que se acha detentora da razão e que se acha responsável por tudo.
Não gosto de gente que não entende que todo ser humano tem um lado humano, de carne, coração, de SEN-TI-MEN-TO.
Não gosto de gente que puxa saco, que faz as coisas pra mostrar serviço, que muda de opinião como muda de roupa.
Não gosto de gente mesquinha, pobre de espírito, sem alma, insignificante.
Não gosto de gente que faz viagens pra fora da cidade, do estado, do país, quando na verdade, nunca viajou nem pelo próprio quarto.
Não gosto de gente que abusa do outro, que menospreza aquele que não tem estudo certificado.
Não gosto de gente que sempre quer estar por cima da carne seca, rindo e tentando tirar proveito daquilo que nunca foi dele.
Não gosto de gente assim.

A vida é a pratica diária do dia a dia.
A vida é o conversar, o entender o tentar compreender.
A vida é dividir responsabilidades, é ensinar, é provar pro outro que ele é capaz.
A vida é ser humano é ter carne, ter coração, ter SEN-TI-MEN-TO.
A vida é se ser, é mostrar o que tem que ser feito, de forma educada.
A vida é ter opinião própria, mesmo quando ela difere das outras opiniões.
A vida é ser rico. Rico de valores, de olhares, de partilha.
A vida é viajar pelo interior de si, conhecer-se, viajar o mundo antes de precisar sair da cidade, do estado, do pais...
A vida é viajar dentro do próprio quarto.
A vida é se enxergar no outro. É colocar-se lá, quando também nós não tinhamos a certificação do estudo que temos hoje.
A vida é ser infinito!
A vida é o valor que se dá a si mesmo.
A vida é compreender que o valor do outro é valorizado por ele, mas DEVE ser respeitado por nós.
A vida é não gostar de pessoas, de pessoas que não nos agregam nada, nem de bom, muito menos de ruim.
A vida é tantas outras coisas.
O Não gostar de pessoas também é tantas outras coisas.

O não gostar e a vida é algo que difere de pessoa para pessoa, cada um com sua opinião, com seu valor, com seu ser.
A vida é. Somente é.