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segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Só dê ouvidos a quem te ama. (Autor Desconhecido)

Só dê ouvidos a quem te ama. Outras opiniões, se não fundamentadas no amor, podem representar perigo. Tem gente que vive dando palpite na vida dos outros. O faz porque não é capaz de viver bem a sua própria vida. É especialista em receitas mágicas de felicidade, de realização, mas quando precisa fazer a receita dar certo na sua própria história, fracassa.
Tem gente que gosta de fazer a vida alheia a pauta principal de seus assuntos. Tem solução para todos os problemas da humanidade, menos para os seus. Dá conselhos, propõe soluções, articula, multiplica, subtrai, faz de tudo para que o outro faça o que ele quer.
Só dê ouvidos a quem te ama, repito. Cuidado com as acusações de quem não te conhece. Não coloque sua atenção em frases que te acusam injustamente. Há muitos que vão feridos pela vida porque não souberam esquecer os insultos maldosos. Prenderam a atenção nas palavras agressivas e acreditaram no conteúdo mentiroso delas.Há muitos que carregam o fardo permanente da irrealização porque não se tornaram capazes de esquecer a palavra maldita, o insulto agressor. Por isso repito: só dê ouvidos a quem te ama. Não se ocupe demais com as opiniões de pessoas estranhas. Só a cumplicidade e conhecimento mútuo pode autorizar alguém a dizer alguma coisa a respeito do outro.
Ando pensando no poder das palavras. Há palavras que bendizem, outras que maldizem. Descubro cada vez mais que Jesus era especialista em palavras benditas. Quero ser também. Além de bendizer com a palavra, Ele também era capaz de fazer esquecer a palavra que amaldiçoou. Evangelizar consiste em fazer o outro esquecer o que nele não presta, e que a palavra maldita insiste em lembrar.
Quero viver para fazer esquecer... Queira também. Nem sempre eu consigo, mas eu não desisto. Não desista também. Há mais beleza em construir que destruir.
Repito: só dê ouvidos a quem te ama. Tudo mais é palavra perdida, sem alvo e sem motivo santo.
Só mais uma coisa. Não te preocupes tanto com o que acham de você. Quem geralmente acha não achou nem sabe ver a beleza dos avessos que nem sempre você revela.
O que te salva não é o que os outros andam achando, mas é o que Deus sabe a teu respeito.

Por onde vamos começar???? (Camila de Jesus)

Por onde vamos começar????
Será que cada um atras de si mesmo seria uma boa idéia?!

domingo, 27 de setembro de 2009

Amo a cada um na sua singularidade (Camila de Jesus)

Quero aqui expressar a minha grande alegria.
Alegria de estar junto as pessoas...
Não importa quem são, mas importa o que são... pra mim!
Existem sim, claro, com certeza, aquelas que fazem falta... e como fazem falta, ninguem é insubistituivel, mas a singularidade é guardada e por maisl que alguem seja "substituida" por outra, a essencia permanecerá.
Fico feliz em ter pessoas do meu lado que serão pra sempre, aquilo que eu NUNCA poderei ter...
Escrevo. E escrevo porque sei que não será possivel falar isso a cada um para que tentem sentir o que sinto.
Escrevo porque palavras ao vento se perdem e somente iss aqui poderá servir de alegria quado eu me for.
Escrevo porque é melhor. As palavras ditas diretamente, as vezes não agradam a gente mesmo! Voce fala de um jeito, as pessoas entendem de outro.
Ninguém será entendido profundamente.
Passei um excelente final de semana, acompanhada dessas pessoas que me fazem bem... muito bem!
Aprendizado, lembranças, saudades, risadas, sentimentos guardados e revelados. Palavras ditas, sementes lançadas, objetivo alcançados, olhares cruzados, conversas ao telefone, cabeça ao ar livre... PESSOAS, pessoas e pessoas!
Isso vale. Vale muito!
Amo a cada um na sua singularidade.
Boa semana a todos nós!

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Insisto. Persisto. Acredito. (Camila de Jesus)


O que é ser alguém?
E o que é ser alguém de outro alguém???
O que é representar algo para alguém?
E o que é representar?
O que é ser?
O que é ter valor?
O que é acreditar?
E desacreditar também...
Aí como viver é difícil... como CONVIVER é difícil!!!!!!
Querer o bem das pessoas é difícil...
Querer ajudar é difícil...
E deixar-se ajudar é difícil também...
Clarice Lispector tem me feito muito bem.
"Olhe, tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras. Sou irritável e firo facilmente. Também sou muito calmo e perdôo logo. Não esqueço nunca. Mas há poucas coisas de que eu me lembre."
Isso tudo parece um tanto quanto contraditorio... mas é a verdade, pelo menos de mim.
Estou sufocada pelo tempo. Me sinto atacada. Quero fazer tudo... não consigo nada.
No trabalho sou sempre questionada por um ou por outro... [por aquilo que escrevo, que posto, que acredito, que brinco, que falo...] que na brincadeira, acabam por ofender. Não me chateio com isso, mas vou me enchendo das pessoas. Criamos sempre uma espectativa em cima dela e com o tempo percebemos, que nos decepcionamos com aquilo que haviamos acreditado...
Será que todo mundo amadurece e chega um ponto que acha que não precisa crescer mais, por ter estudado isso ou aquilo, aqui ou ali?! Por desenvolver um trabalho assim ou assado?!?! Será que o lugar que a gente estuda realmente faz com que sejamos mais espertos, mais inteligentes ou simplesmente nos faz querer ver as coisas de outro modo?....
Ser alguém é complicado. Crescer é complicado. Cada dia é um dia, cada olhar é um olhar e cada palavra continua sendo o mais importante, o mais cativante. Continua sendo o que de mais valioso alguém pode me oferecer. [E esse valor pode ser tornar positivo ou negativo...]
Tenho em minhas lembranças, grande parte da minha infancia-adolescencia, as pessoas que estudaram comigo, choraram comigo, viveram comigo, cresceram comigo e hoje em dia na minha atual juventude, carrego essas pessoas comigo que fizeram parte da minha vida e mesmo que longe estao sempre perto me ajudando crescer e a entender que todos somos falhos e que na verdade não queremos ser aquilo que somos, estamos bem, mas queremos SIM melhorar...
De quem depende tudo isso???
Afinal, o valor de quem eu quero é realmente o que eu preciso?
O valor pra quem eu quero oferecer é digno do que eu tenho pra dar?
Do mesmo modo que o amor é um sentimento muito proximo ao odio, a diferença é muito proximo a semelhança. Chega até a nos confundir.
Insisto. Persisto. Acredito.
Vamos ao trabalho!

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Precisamos de convivência (Camila de Jesus)


♫♪ O que fazer?
O que fazer??? ♫♪
Não há o que fazer quando não existe decisão.
A realidade nos aprisiona. A gente tem vergonha da gente mesmo!!!
Quem causa tudo isso?! Nós mesmos. Somos protagonistas da nossa história, da história que nós mesmos escrevemos, ilustramos, colorimos ou deixamos em preto e branco, sem vida, com aparencia de que falta algo.
Falta algo mesmo... falta a gente perceber que tudo na vida é dificil e que nada cai do céu... falta a gente perceber que pra que tudo de certo um dia, termos o proprio carro, o proprio celular, o proprio eu, precisamos enfrentar o bicho papão da infancia, o rato escondido naquela tralha de papel...
Quando a gente cresce e começa a entender as entrelinhas de um texto ou de uma fala, a gente tem que ser malicioso... malicioso pra entender que nem todo mundo que fala que é amigo... é amigo mesmo... nem todo mundo que diz, "confia em mim", é digno da confiança... a gente encara a malicia como algo maldoso... relacionado na maioria das vezes ao aspecto sexual...
A realidade na qual vivemos é puramente maliciosa. Sempre tem alguém com segunda intençoes.
Precisamos sim ser ingenuos, no entanto precisamos "levar as coisas por tras" pra aprender que quem merece o reconhecimento dos nossos valores, sempre estão levando o titulo de chato, de que esta enchendo o saco, de quem não nos conhece...
Existem pessoas que nos conhecem pelo olhar, do mesmo modo que conhecemos pessoas pelo olhar... na maioria das vezes, isso não é reciproco. Não queira dizer do outro aquilo que somente voce e ele conhecem sobre você.
Acreditar em si e crescer interiormente para si e exteriormente aos olhos dos outros é repectivamente sem duvida o que de mais valioso podemos ter em nossas vidas.
Aquilo que somos, não há de ser mudado, mesmo porque somos o que somos.
Perceba malicia nos outros. Perceba segundas intençoes nos outros. Percebe a gentileza para você nos outros. Perceba os outros em você.
Ninguem cresce sozinho. Precisamos de convivência.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Para mim as palavras dizem muito mais! (Camila de Jesus)

Como ajudar as pessoas quando elas não querem ser ajudadas?
Como mostrar o caminho quando elas não querem enxergar?
Como apresentar a felicidade se a pessoa não quer ser feliz?
As pessoas são muito confusas. E eu sou também! Também sou uma pessoa.
Mas estou tentando enfiar na minha própria cabeça que ser amigo é fazer-se ausente e voltar a ficar de braços abertos quando a pessoa realmente estiver precisando de mim. Fora isso, vou vivendo a minha vida, pois o dia que tiver que parar pra viver a vida com ela, vou viver e tenho certeza que será gratificante, tanto pra ela quanto pra mim.
Chateio-me com coisas assim.
Me sinto trocada e as vezes tenho a sensação de que a pessoa quer dizer:
"-Se toca!!!!"
Mas ao mesmo tempo tenho a sensação de que a pessoa quer dizer:
"-Meu universo não é o seu universo, não quero que você viva isso comigo, pois não quero isso pra você. Você merece coisa melhor!!!"
Assim como ja disse uma vez, insisto.
Ser amigo é também suportar a felicidade. É estar feliz porque o outro está feliz.
Você está feliz? É isso que você me diz? É isso que enxergo? É assim que estou!
Estar triste com você não é sacrificio algum pra mim. Deixar as coisas por você, não é sacrificio algum pra mim.
No entanto, é dificil ler coisas e enxergar outras coisas nas entrelinhas... a preocupação bate, mas a liberdade de perguntar se isola, pois acredito naquilo que esta sendo dito.
PARA MIM AS PALAVRAS DIZEM MUITO MAIS!
Assim como diz um amigo meu: "Amizade não falta com a verdade, não é engolida pelos desejos, nem carnais nem materiais, ou seja, amizade supera todas as questões mundanas, mas acima de tudo o verdadeiro amigo é aquele que te ouve se põe em seu lugar todo o tempo."

Devemos o tempo todo tomar muito cuidado, pois você pode estar sendo assim com alguém, mas será existe alguém assim com você???

TABACARIA (15-1-1928) [Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)]

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê
-Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.